terça-feira, 16 de setembro de 2008

Quem mexeu na minha igreja?

Quem mexeu na minha igreja? Como descobrir o Propósito da Igreja em uma Cultura em Transformação. GW Editora. Rio de Janeiro. 2005.
Autor: Mike Nappa.
Título Original em Inglês: Who moved my church?

O livro começa com a história do preletor de um evento evangélico cujo papel era compartilhar um seminário sobre: “Cristianismo e Cultura: onde nós nos encaixamos?”. Depois de uma breve introdução com algumas perguntas de nivelamento, o preletor então conta seguinte alegoria.

Ato Um: A ocorrência na Cidade Municipa

Um Repórter foi enviado e incumbido por Editor para observar todas as reações concernentes à Catedral JC para uma ação tomada do Editor. Quem seria esse Repórter? Um anjo enviado do Editor, que representa Deus. Esse Repórter tinha uma lista de instruções a cumprir:
1. Entrar na atmosfera terrestre;
2. Observar as ações e reações das pessoas associadas com a Catedral JC, na Cidade Municipa, Brasil;
3. Narrar o progresso dos membros da igreja;
4. Reparar nas práticas e nos princípios em jogo durante o período de observação;
5. Permanecer na tarefa, até que o Editor o chame para apresentar seu relatório.
Essa igreja estava situada num bairro abastado, longe do centro da cidade e, conseqüentemente, longe da realidade da cidade. O Repórter chega em frente ao local e começa a observar a ação dos personagens. São quatro personagens: Altéia Pináculo, Randall Punhos, Eliara Conexão e Sem Nome.
Numa bela manhã, Altéia Pináculo, que era uma mulher muito espiritual e sempre chegava cerca de duas horas do culto para preparar a igreja, chegou à igreja e não a encontrou. Ali mesmo ficou parada, sem ação alguma. O segundo personagem, Randall Punhos, era Major reformado do exército, chegou e, ao deparar-se com o local da Catedral JC simplesmente vazio, teve a mesma reação de Altéia Pináculo. Assim, as outras pessoas da igreja foram chegando e se aglomerando na frente do terreno vazio. Sumiu a igreja. Quem mexeu com a igreja?
Randall Punhos, acostumado a liderar, toma a frente e propõe uma busca pela catedral. As equipes são divididas de forma aleatória e são formados quatro grupos de busca, cujos líderes são os personagens principais da alegoria. Assim que algum grupo encontrasse a catedral, mais que depressa, mandava um correspondente avisar aos outros da descoberta.

“Quando a igreja estiver faltando, é melhor você sair e encontrá-la.”

Ato Dois: Altéia Pináculo relembra Neemias

O primeiro grupo a encontrar a catedral foi o de Altéia Pináculo. A Catedral JC estava situada no centro da cidade e com a ajuda de algumas crianças, esse grupo a encontrou. A igreja estava sem paredes! A primeira providência a ser tomada foi isolar a igreja, construindo novas paredes.

“Será que Deus precisa ser protegido e fechado por paredes daqueles que estão no Seu mundo?”

Altéia logo começou a fazer reuniões de oração todos os dias com o seu grupo e deixou a igreja sempre arrumada e bem conservada. Tinha uma convivência saudável em comunidade, dentro da igreja somente. Ela possuía caráter exclusivista e não permitia que os membros de seu grupo se envolvessem com outras pessoas “mundanas” ao redor, conseqüentemente, não havia evangelização.

“O povo de Deus é realmente a sua família, e é lindo quando eles se tratam como tal.”

(E havia esquecido completamente do compromisso de avisar outros grupos assim que encontrasse a Catedral). Enfim Altéia Pináculo liderou o êxodo de todo o seu grupo argumentando que se permanecesse por mais tempo ali, seria contaminada com as coisas do mundo.

“O cristão que não tocar na sua cultura jamais poderá mudá-la.”
“Isolamento só produz irrelevância.”

Ato Três: A Chegada do Major (Randall Punho)

Depois de algum tempo, o grupo de Randall Punhos, militar que não desistia facilmente, conseguiu encontrar a Catedral JC. Encontrando-a tomou logo providências iniciais e construiu um grande e alto muro em volta da catedral. Sua intenção era a de transformar a catedral num quartel general. Assim, ele fez buracos no telhado e nas paredes para lançar bombardeios de folhetos evangelísticos à rua, que era muito movimentada, com um cinema que passava somente filmes pornográficos, teatro de arena e um bar nas proximidades.

“Quando for a hora de participar de uma batalha, será melhor se você souber quem é o inimigo – e quem o inimigo não é”.

As coisas estavam indo bem e Randall, Major reformado, pregava a palavra de Deus todos os dias na catedral. Mas Randall tinha aversão a instrumentos como baixo e bateria, dizia que eram de Satanás. Tirou-os da igreja e o louvor era feito somente com hinos à base de órgão e piano. Quando ficou sabendo que uma banda mundana iria tocar nas proximidades, procurou o dono do teatro de arena e começou a persegui-lo na intenção de fazer com que desistisse. Mas isso não aconteceu. Conversando com o líder da banda (guitarrista), Randall conseguiu convencê-lo a abandonar a banda e seguir a religião pregada por Randall. Mais tarde, esse mesmo líder da banda, foi preso por planejar o seqüestro de um dos médicos de uma clínica nas proximidades. Randall acusava a clínica de fazer abortos. Assim, Randall começou a ser procurado pelo estado e teve que fugir para outro estado. Entendeu que era a vontade de Deus que ele partisse para pregar o evangelho em outro lugar. E marchou para a liberdade, deixando para trás a Catedral JC vazia mais uma vez.

“Deus não enviou o Seu Filho para condenar o mundo, mas para salvá-lo.”

Ato Quatro: A Conexão restante

Passado algum tempo, Eliara Conexão encontra a catedral. Ela já havia perdido as esperanças e encerrado as suas buscas. Por isso, meses atrás, ela havia enviado o restante do seu grupo para casa. Mas nunca perdera a esperança de encontrar a Catedral de novo. E quando a achou, mais de que depressa chamou vinte e três pessoas de seu grupo, já que duas havia partido para longe. Ela havia chegado à conclusão de que Sem Nome sabia algo a respeito de quem tinha mexido na sua igreja. Tinha certeza de que o próprio Deus havia descido e transportado a Catedral JC para fora da zona de conforto de seus membros e a tinha reinstalado em um lugar em que Ele queria que ela florescesse. Seja lá o que for que tivesse atacado o lado de fora da igreja, tinha sido, de maneira misericordiosa, impedido de destruí-la interiormente.
Ela viu que a igreja estava destruída por fora. Logo começou a revitalizar a catedral JC. E com entusiasmo contagiante, ela começou a trabalhar.

“Quando Jesus está envolvido, cada obstáculo é uma oportunidade em potencial.”

Ela tirou o muro dizendo que a igreja deve ser um lugar acessível a todos. Já que a igreja estava situada no centro da cidade e havia muitos pobres nas redondezas, deveria ser uma igreja que abrigasse essas pessoas também. Logo montou uma reunião de brainstorm com sua equipe e todos davam idéias de como deveriam fazer para alcançar toda a região. Começaram três projetos com os adolescentes, usuários de drogas e mães solteiras. Eles realmente estavam fazendo diferença naquela comunidade onde Deus os havia colocado. Logo a igreja estava cheia e não parava de crescer os projetos sociais. Eliara mudou até o nome de Catedral JC para Casa JC a fim de receber incentivos do governo, visto que como igreja não poderiam receber. Fazendo isso, eles se tornavam elegíveis para conseguir se inscrever, requisitando verbas federais que não estavam disponíveis para instituições religiosas. Claro, eles teriam que remover quaisquer ligações públicas como Cristo na igreja, mas isso era um pequeno preço a pagar pelo ministério que estava sendo desenvolvido lá. Assim, as obras sociais foram aumentando. Contudo, vários problemas foram acontecendo dentro da equipe[1] e as obras foram diminuindo. As pessoas foram sumindo da igreja e Eliara e sua equipe decidiram que seria melhor fazer essa obra social em outro lugar da cidade, já que tinham feito a parte deles na região. Assim, Eliara saiu e abandonou a catedral JC. A igreja ficou vazia de novo.

“Somente tolos acreditam que podem ajudar uma pessoa a resolver os seus problemas contribuindo com eles.”
“Boas intenções podem algumas vezes ser tão prejudiciais quanto às más intenções.”

Ato Cinco: Sem Nome ajunta os pedaços

Após três anos, Sem Nome, que estava trabalhando no setor de zoneamento da cidade, encontrou a igreja por acaso e visitou a catedral. Sem Nome conseguiu autorização da Prefeitura de Municipa para a restauração da catedral que até havia sido manchete de jornal por várias vezes. Sem Nome começou a trabalhar sozinho aos sábados. Depois a sua família se agregou ao trabalho. Logo havia um grupo ajudando Sem Nome na restauração da Catedral JC. O dono do bar, Zeca, apareceu e começou a conversar com Sem Nome. Achando agradável a conversa, passou a ajudar Sem Nome todos os sábados. Logo a sua família inteira já estava trabalhando na mesma empreitada. Assim também, outras famílias começaram, aos poucos, a vir para a Catedral JC. Sem Nome estava preocupado somente em fazer nome de Jesus grande e se chamava Sem Nome devido à relevância que ele dava a si mesmo. O nome de Cristo deveria aparecer mais que o dele. O grupo aumentava cada vez mais.
Algum tempo se passou e Randall Punhos apareceu, pediu desculpas aos seus antigos inimigos que agora faziam parte da igreja e se juntou ao grupo. Ele dizia aos mesmos: “Eu pensei que vocês eram meus inimigos, mas ao invés disso, o Inimigo me fez ser seus inimigos”. Depois, Altéia Pináculo também apareceu e passou a fazer parte do mesmo grupo. Os dois passaram a serem tratados para serem curados, porque foram abandonados pelos grupos que eles lideravam. No caso da Alteia, as pessoas do grupo dela acusavam-na como mundana porque ela estava tomando remédio para o coração dela. Aliás elas achavam que Altéia estivesse “em pecados” porque ela estava tendo problema de coração. Enfim, ela teve um episódio de ataque cardíaco.
E a igreja foi reconstruída e re-inaugurada enfim. Agora havia realmente uma igreja e Jesus Cristo estava sendo pregado. E as pessoas “problemáticas” estavam sendo tratadas também pelo evangelho.
E quem fim se deu com a Eliara Conexão? Ela estava mais preocupada em fazer obras sociais e acabou se tornando política. Ela acabou formando grandes plataformas políticas, promovendo-se no ramo com base nos trabalhos sociais. Cristã? Só de nome!
No dia da re-inauguração da igreja, Zeca deu parabéns para Sem Nome dizendo que ele conseguiu a reconstrução. Ao que Sem Nome respondeu: “Nãããão... eu só ajudei a construir um prédio. Deus reconstruiu a igreja”.

“No fim das contas, tudo o que importa é Jesus.”
“A verdadeira Igreja não é de forma alguma um prédio; é a presença de Cristo dentro dos corações e das vidas das pessoas. Nossa obrigação, portanto, é de simplesmente compartilhar esta Presença como nosso mundo.”

Epílogo: O Bloco de Anotações do Repórter

Nessa festa da re-inauguração da igreja, enfim, veio o chamado. Veja o que ele havia escrito no bloco de anotações dele:
“Quando a igreja estiver faltando, é melhor você sair e encontrá-la.”
“Será que Deus precisa ser protegido e fechado por paredes daqueles que estão no Seu mundo?”
“O povo de Deus é realmente a sua família, e é lindo quando eles se tratam como tal.”
“O cristão que não tocar na sua cultura jamais poderá mudá-la.”
“Isolamento só produz irrelevância.”
“Quando for a hora de participar de uma batalha, será melhor se você souber quem é o inimigo – e quem o inimigo não é”.
“Deus não enviou o Seu Filho para condenar o mundo, mas para salvá-lo.”
“Quando Jesus está envolvido, cada obstáculo é uma oportunidade em potencial.”
“Somente tolos acreditam que podem ajudar uma pessoa a resolver os seus problemas contribuindo com eles.”
“Boas intenções podem algumas vezes ser tão prejudiciais quanto às más intenções.”
“No fim das contas, tudo o que importa é Jesus.”
“A verdadeira Igreja não é de forma alguma um prédio; é a presença de Cristo dentro dos corações e das vidas das pessoas. Nossa obrigação, portanto, é de simplesmente compartilhar esta Presença como nosso mundo.”
Depois de olhar essas anotações, ele ficou satisfeito e olhou saudoso em direção ao Céu. E então, desapareceu.

Discutindo: “Quem Mexeu na Minha Igreja”

Depois de contada a alegoria, o cenário volta para o seminário sobre Cristianismo e Cultura. O preletor deixa algumas perguntas para as pessoas responderem e sem que elas percebam, sai de fininho.
Vamos ver as perguntas do questionário do preletor:
1) Qual foi a minha reação inicial para a alegoria de “Quem mexeu na minha igreja”? Por que você se sente dessa forma?
2) Você já viu exemplos reais de pessoas como Pináculo? Punhos? Conexão? Sem Nome?
3) Qual dos quatro personagens principais mais se parece com você? Por quê? Com qual tipo de pessoa você mais gosta de se associar na igreja? Por quê?
4) Que traços positivos você encontra em cada um dos personagens? Que fraquezas ou defeitos você vê em cada um deles?
5) A história parece que deixou de fora deliberadamente distinções como raça, filiação denominacional e condição social dos principais personagens. Por que você supõe que isto ocorreu?
6) Todos os personagens nesta alegoria acreditavam que estavam verdadeiramente interagindo com a sua nova cultura de maneira que Deus queria que fizessem, contudo, cada um deles se aproximou da sua cultura com diferentes objetivos. Você já viu este tipo de coisa acontecer? Por que você supõe que isto acontece? O que pensa que deve ser feito a respeito, isto é, se alguma coisa deve ser feita?
7) Que tipo de anotações você acha que o Repórter está fazendo em seu bloco de notas a respeito da forma como você interage com a sua cultura?
8) Se você tivesse que resumir a mensagem central desta história em uma sentença, o que você diria? Por quê?
9) Qual você acha que é a maneira mais desejável para um cristão interagir com a sua cultura em contínua transformação? O que te impede de fazer isto?
10) Como os seguintes versículos se aplicam a esta história? Atos 10, Efésios 6.12-18, João 17.14-15, I João 2.15.

Conclusão:
Cada personagem neste livro é, de fato, somos nós. Quantas e quantas vezes nos pegamos sendo um dos personagens aqui descritos. Isto significa que Cristo mexeu na Sua Igreja e a plantou diretamente na cultura volátil e em constante mudança no Brasil no século XXI.
Quando Jesus andou na terra, Jesus estava totalmente imerso na cultura de Seu tempo. E ainda assim, conseguia ficar completamente à parte da pecaminosidade daquela cultura e mantinha-Se não contaminado pelo mal.
Mas como devemos ser cristãos (influenciando o mundo) vivendo nesse mundo pecaminoso sem nos contaminar com eles? A resposta é individual, mas a certeza é que a igreja é a presença de Cristo.
A intenção desse livro é ajudar-nos a refletir sobre o que significa ser cristãos em nossa cultura hoje.
[1] Eu creio que esses problemas surgiram porque desviaram da missão principal da igreja, que não é certamente obra social. A igreja existe para adorar a Deus. Ou no mínimo, podemos aceitar 5 propósitos da igreja de Rick Warren. No livro, Eliara Conexão usa alguns métodos de moralidade discutível como distribuir camisinhas ou seringas descartáveis. São usados para prevenir os males de DST (doenças sexualmente transmissíveis), mas será que isso não seria um ato de aprovação do sexo livre e fornicação e uso de droga e os estimularia mais? Puxa! Há um texto (pg 66-67) onde Eliara parece aprovar o abortamento para aliviar as “conseqüências indesejáveis” posteriores. Na história, ela dá graças a Deus, porque a moça recebeu um dinheiro extra (a devolução do imposto de renda) do governo, um montante exatamente igual do preço do abortamento que ela não tinha antes. Ela interpreta essa “bênção” como aprovação divina para a prática do abortamento!! É um pouco perigoso! Quando começa a fazer a concessão do kerigma (evangelho que é o essencial) em prol do secundário (não querer ofender os visitantes), isto é, acontece o enfraquecimento do púlpito, igreja começa a perder muito. Era isso que estava acontecendo na era da Eliara Conexão da Catedral JC, quando o pregador (orador) concordou de coração e passou todo o tempo compartilhando uma palestra motivacional padrão como o tema: “Se-você-pode-sonhar-você-pode-realizar”.

Um comentário:

edmeia disse...

esse é o livro todo? sabe se tem algum site para baixar??